domingo, 11 de março de 2012

26 de Janeiro


Este poema nada mais é que
um amontoado de letras (des)ordenadas
numa folha de papel.
Elas ficarão escritas-inscritas nesse
quarto nesse corpo e
daqui jamais sairão.
Este poema não se descolará do sulfite
não abrirá a porta
não tomará o ônibus e
muito menos cruzará a Zona Norte.

Este poema não a atingirá como
me atingiu naquele dia de janeiro
- há anos atrás -
a bala que ela meteu
vagarosamente no meu peito
naquele Verão em que tudo destroçava
silenciosamente quando seu
corpo perfurava a claridade das
manhãs de óleo diesel.

Este poema nunca será tão
forte quanto as saudades que
eu sentia ela ter de Portugal.
Nunca será tão vivo quanto a
cor das suas coxas naquelas fotografias
que tive que despedaçar.
Escrever este poema
- qualquer poema –
é perder tempo e sossego.

Nenhum deles nunca será aquele 26 de Janeiro.

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